segunda-feira, 15 de junho de 2009

O Arquiteto de Sonhos

O Arquiteto de Sonhos

A cidade de Ilhéus sempre foi um celeiro de gente que diz e brada que a ama incondicionalmente. Ouve-se com muita freqüência por suas ruas seculares os coros uníssonos dos seus amantes e defensores de plantão. É comum encontrar verdadeiros guerreiros prontos para defender a Princesinha do Sul, diante de qualquer crítica ou mau agouro. Agora encontrar obras prontas e concretas desses amantes falaciosos, é caso raro.

Na contramão disso tudo e coberto de um silêncio gregoriano, atua um jovem visionário que transforma o seu amor por Ilhéus em obras concretas, efervescentes e dignas dos grandes amantes humanos. Essa pessoa é Romualdo Lisboa, diretor da Casa dos Artistas.

Romualdo se quisesse, já estaria em outras grandes cidades, dirigindo grandes peças e convivendo com artistas de renomes nacionais e internacionais. Com um simples telefonema e um único ‘sim’ com resposta, poderia no mesmo dia aceitar os tantos convites nacionais para dirigir campainhas de teatros ou então ser professor de artes cênicas em vários lugares brasileiros.

Contudo, se pergunta: por que Romualdo Lisboa optou pelos ares mornos de Ilhéus e sua gente morena, quando tinha (e tem) um oceano de possibilidades e oportunidades pela frente? Por que será que esse caboclo-verde, cria da terra marrom da civilização do cacau, se apaixonou pelas areias brancas das praias de Ilhéus e aqui resolveu definitivamente ficar e realizar os seus sonhos?

Eu jamais o fiz essas perguntas, mas acredito que tudo se resuma ao fato de Romualdo Lisboa ser um verdadeiro arquiteto de sonhos e um dos raros exemplares de amantes da arte pura, genuína e popular brasileira. Na verdade Ilhéus está dentro dele e lateja assim como o aroma do cacau ainda está dentro de todos nós.

Romualdo, - ao contrário de muitos ilheenses falastrões -, atua no silencio da folha de papel em branco e cada uma das suas intervenções artísticas, se faze ver, sentir e ouvir por milhares de pessoas do mundo inteiro. Ele, á frente da Casa dos Artistas, sofre diuturnamente com os descasos governamentais em relação a nossa cultura e agoniza silenciosamente diante da falta de recursos financeiros para manter a nossa verdadeira ‘casa da cultura’ funcionando.

Enquanto os vários amantes vazios de Ilhéus bocejam pétalas de amor sobre nossa cidade, Romualdo sorteia qual a conta atrasada que será paga para evitar que a Casa dos Artistas fique no escuro, sem água, sem telefone, sem teatro, sem cultura. Enquanto muitos se ajeitam nos seus sofás confortáveis para sorvirem a noite fresca da nossa cidade, Romualdo constrói cenário, escreve textos, cria figurinos, redesenha personagem e acalanta a morimbunda cultura das terras de São Jorge dos Ilhéus, com seus toques de genialidades e criatividade.

Se quisesse, volto a afirmar, ele teria a fama nacional com tapete dos seus dias. Mas ele prefere Ilhéus e seus desafios imagináveis, não só para a cultura, mas também para todas as atuações sociais. Ele deve ter suas razões maiores que nossas compreensões.

Deus queira que Romualdo Lisboa jamais desista do seu verdadeiro amor por Ilhéus e sua dedicação pela nossa cultura. Pois se isso acontecer, Ilhéus ficará mais uma vez órfã, sofrida e muda. Se não se fizer algo de concreto em prol da cultura ilheense, daqui há alguns dias choraremos com saudade de Romualdo Lisboa, que por certo irá ter de plantar sonhos e possibilidades em outras plagas.

Será que Ilhéus terá coragem de decretará o auto-exílio de um dos seus amantes mais atuantes e realizadores? Será que ninguém vai fazer nada em prol da última gota quente da cultura ilheense que é a Casa dos Artistas? Você já pensou se Romualdo desanimar e resolver partir, como tem feito tantos talentos da nossa cidade?

Pense e aja. Contribua para a cultura de Ilhéus através de ações e doações. Pois se nada fizermos, em breve - ou até mesmo em muito breve -, a Casa dos Artistas será apenas conhecida pela frase: “aqui viveu o famoso Romualdo Lisboa!”.

Eu tenho certeza que não é isso que queremos para Ilhéus.

Romualdo, como todo bom arquiteto de sonhos, tem seus projetos e por certo Ilhéus é o local mais apropriado para as suas realizações. Contudo, o mesmo silêncio que encoberta as suas angustias e dores, sopra nos seus ouvidos uivos do sucesso e da fama, que se ouvem nos horizontes bem distantes das praias de Ilhéus.

Se não fizermos nada em prol da causa desse verdadeiro amante de Ilhéus, o silêncio ocupará definitivamente a Casa dos Artistas e de Romualdo Lisboa teremos apenas grandes e doloridas saudades. Se a Casa dos Artistas fechar as suas portas e Romualdo Lisboa seguir outros caminhos além daqui, saberemos por fim, que Ilhéus deixou realmente de ser a verdadeira terra da realizações dos sonhos. Tornou-se um museu de pesadelos.

Roberto Carlos Rodrigues é analista de negócios

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