domingo, 14 de junho de 2009

O Petróleo de Banco da Vitória

O Petróleo de Banco da Vitória

Após o triste mês de junho de 1974, quando a seleção brasileira de futebol foi desclassificada precocemente da copa do mundo realizada na então Alemanha Ocidental, o Banco da Vitória, pôde por fim arrumar um motivo para se alegrar e festejar. A Petrobrás iniciara estudos de prospecção de petróleo em terras da nossa comunidade. Não poderia haver notícia mais acalentadora do que essa para os nativos dos lábios salgados do Rio Cachoeira. O povo se alvoroçou loucamente e gotas de riquezas salpicaram os sonhos de muita gente.

Petróleo era dinheiro vivo que brotava do chão e enriquecia qualquer pessoa e lugar. Dessa vez, o Banco da Vitória ia sair da lama. Se dizia.

Esse fato quase pirotécnico correu as ruas de distrito de Banco da Vitória e em poucos dias era notícia nos jornais e rádios de Ilhéus, Itabuna e até na Cidade da Bahia, - como os moradores de Ilhéus gostavam de chamar Salvador, a Capital do nosso Estado.

Nessa época a Petrobrás tinha iniciado diversos estudos em solos do Sul da Bahia em busca de petróleo. A caravana de prospecção iniciou os seus estudos pela cidade de Caravelas, no Extremo Sul e veio, Bahia acima, brocando as terras e desenterrando sonhos. Por fim a caravana chegou as terras dos ares mornos de Ilhéus. No nosso município foram perfurados diversos poços nos distrito de Lagoa Encantada, Sambaituba, Iguape, Coutos e nos batentes de Banco da Vitória.

Os primeiros furos nas terras de Banco da Vitória foram feito próximo a Presa do Iguape e depois mais três outros buracos foram feitos na Mata da Rinha e um último, do outro lado Rio Cachoeira, na direção do Poço do Goió

Os caminhões e caminhonetes da equipe de estudos da Petrobrás ficavam estacionados na Rua do Campo, e para lá ia todos os tipos de curiosos e bisbilhoteiros para verem os maquinários usados para perfurar o solo e detectar o líquido precioso da terra. Tinha gente que ia para ver as gigantescas brocas, outros iam para arrumar motivos para mentir por um mês inteiro. Algumas moças iam para ver os homens fortes que cheirava a querosene. Seu Pedro Preto ia para se deliciar com os modelos de caminhões da Ford, seu sonho de consumo.

Nesses dias de júbilo social, até um famoso radialista ilheense chamado Tiro Seco apareceu em Banco da Vitória para entrevistar os perfuradores da Petrobras. Junto com Tiro Seco apareceram também mais de uma dúzia de pessoas dizendo que tinha indícios de petróleo nos quintais das suas casas. Eram moradores da nossa comunidade que queria ficar rico com líquido preto da terra.

Seu Cazuza, quando soube na notícia disse alegremente:

- Tô rico!! Lá no quintá de casa tem um troço preto que escorre da terra dia e noite, deve ser ‘petroi’!

Meia hora depois estava seu Cazuza com uma lata de alumínio cheia do liquido escuro, mostrando-a para o pessoal da Petrobrás.

O técnico da Petrobras analisou o liquido rapidamente e disse:

Isso não é petróleo, deve ser chorume. Tem algum cemitério por perto da casa do senhor? Perguntou o rapaz.

Seu Cazuza, que morava bem em frente ao cemitério de Banco da Vitória, nem respondeu. Pegou a sua lata com o líquido fedorento e a jogou no brejo de Dona Margarida. Depois, foi afogar a sua tristeza na venda de seu Zé Cotoco. O fato virou piada em Banco da Vitória. Seu João Batista, que era o coveiro, quando via seu Cazuza sempre perguntava:
- E ai Cazuza, já saiu o resultado do teste do petróleo lá do seu quintal:

Seu Cazuza resmungava:

- Vai pro inferno, satanás!

Seu Thiago Cardoso, que achava que também tinha petróleo no seu quintal, nem ousou ir levar as amostras para os técnicos da Petrobrás. Cabo Jonas, que dizia até ter tomado banho de petróleo na Cidade de Ruy Barbosa, logo se enquadrou como perito no líquido preto da terra e argüia por onde passava.

- Petróleo?! Conheço a distância! È só trazer que eu dou na hora o diagnóstico e a qualidade do magma líquido...

Em menos de uma semana a comitiva da Petrobras saiu de Banco da Vitória, rumando dessa vez para Camamu, onde realmente se achou uma grande reserva de petróleo. Em Banco da Vitória ficaram lacrados e numerados todos os poços das terras do umbigo da Região Cacaueira. As únicas coisas que não ficam lacradas foram as bocas dos palpiteiros de plantão.

Tinha gente que dizia que os poços de petróleo de Banco da Vitória foram lacrados para não explodirem de tanto líquido precioso que se tinha neles. Outras vezes se dizia que em cada poço tinha um guarda tomando conta do reserva nacional. Havia também que argumentasse que além de petróleo se achou nos poços diamantes, esmeraldas, rubis e ouro. Houve até quem disse que seu Raimundo Ribeiro ia ficar rico só com um poço perfurado perto das suas terras, na Mata da Rinha.

Tudo isso, em pouco tempo caiu no imaginário coletivo do povo de Banco da Vitória.

Uma coisa é certa, somente a Petrobrás sabe exatamente onde estão as localizações desses poços perfurados em Banco da Vitória. O mato e o tempo se encarregaram de escondê-los dos olhos desta nossa geração.

Se havia petróleo ou não, até hoje não sabemos ao certo. Mas uma coisa a Petrobras certificou com a sua incursão em solos de Banco da Vitória: todos os tipos de sonhos e possibilidades podem brotar deste chão sagrado para esse povo que tem a esperança como horta dos seus dias.

Roberto Carlos Rodrigues

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