segunda-feira, 15 de junho de 2009

Os Cidadãos e os ‘Se Dão Bem’ na visão de Francolino Neto

Os Cidadãos e os ‘Se Dão Bem’ na visão de Francolino Neto

Roberto Carlos Rodrigues

Numa agradável tarde de outono do ano de 2001, eu estava na biblioteca da casa do professor Dr. Francolino Neto, analisando uns documentos de uma empresa que tinha contratados os nossos serviços de consultoria. Na verdade eu estava embriagado de fascínio por estar atuando junto aquela celebridade e pessoa tão maravilhosa. Num determinado momento, eu citei entre as minhas falas, os seguintes termos “... isso não pode ser coisa de um cidadão de bem...’ O professor Francolino me olhou sobre os óculos, sorriu com sublime catálise e me indagou:

- Meu Jovem, você sabe o que é um cidadão? E principalmente um cidadão de bem?

Eu parei imediatamente a minha atividade, concentrei minha atenção sobre o rosto resplandecente daquela adorável figura humana e esperei que o meu silêncio fizesse com que o professor respondesse a sua própria pergunta.

Nada disso ele fez naquele momento. Simplesmente se emudeceu como uma pedra de mármore e se voltou para os seus estudos. Eu então lembrei Euclides Neto, autor do livro Dicionareco das Roças de Cacau e Arredores, que eu tinha recebido um exemplar de presente do professor Francolino Neto e então argüir:

- O senhor me deu uma ‘camboa’ de ‘mocado’!

O professor Francolino sorriu com o dengo que somente a sua Itajuípe poderia lhe dar e então completou:

- Caro Roberto, cidadão mesmo, pouca gente é. E cidadão de bem é coisa rara feito enterro de anão. O que temos muito hoje em dias são os ‘se dão bem’. Aqueles que, envoltos dos títulos e denominações peculiares, se dizem partícipes de uma sociedade humana e dela usufruem a sua colaboração e benefícios. Ser cidadão está muito além de registros civis e representações públicas. O Aurélio nos diz que cidadão é o habitante da cidade, região ou país. Mas na verdade se entende por "cidadão "o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado ou no desempenho de seus deveres para com este.”

Se sentindo incompleto em sua lúcida explanação, o egrégio professor Francolino foi até alguns dos seus livros e depois voltou com um deles aberto e leu pausadamente como quem dar uma magistral aula:

“... Antes de mais nada, a expressão cidadã significa a tomada da palavra, uma expressão de caráter público relacionada com a vida na sociedade. O termo “cidadão” foi criado a partir de civitas, que designa a cidade, esta por sua vez originada de civis, que significa cidadão, aquele que habita a cidade. O termo “cidadão”, integrado na Marselhesa, hino nacional francês, e empregado durante a Revolução de 1789, provavelmente é mais forte e mais pleno de história na França do que em outros países nos quais é utilizado em um contexto unicamente descritivo e funcional.

A cidadania é expressa historicamente em um território, geográfico ou simbólico. Ela surge nas sociedades abertas no cerne das quais um espaço público pode ser desenvolvido em uso comum. Ela é uma ferramenta essencial para a ampliação da democracia. A expressão cidadã é aquela, individual ou coletiva, que fala das relações com os outros, da vida na cidade e na sociedade...”

Aproveitando o ânimo impar do professor Francolino Neto para explicar e ensinar, eu então o indaguei:

- E os ‘se dão bem’, como se definem?

O professor sorri em tom de pilera e respondeu-me:

- São figuras vezeiras dos cadernos policias dos jornais diários e de vem em quando respingam suspiros nas páginas de políticas. Ali estão todos os ‘se dão bem’ de todas as cidades do mundo. Muitos se dizem cidadão ou até mesmo representantes de uma cidade ou classe social, mas na verdade, em sua maioria é mesmo de ‘se dão bem’. Lá nas brenhas antigas de Macuco, esses eram chamados de larápios, amantes do alheio.

Até hoje essa nossa prosa valiosa me instiga e por muitas vezes me inquieta, pois a cada dia eu me conscientizo que a nossa sociedade continua exterminando os verdadeiros cidadãos em prol dos ‘se dão bem’. Os exemplos estão por todos os lados e são facilmente vistos.

Cidadão, - como dizia o brilhante advogado Francolino Neto -, é em sua essência coisa realmente muita rara em nossa sociedade. Agora os ‘se dão bem’ pode ser ver em todos os lugares, povos e nações. Porém, uma coisa é certa: esses últimos não habitam o céu dos justos e dos honestos, onde agora o cidadão Francolino Neto proseia entre anjos e querubins.


O autor é analista de negócios.

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